Poetry Slam: A Origem
- Por Trás da Rima
- 23 de abr. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de jun. de 2018
A poesia ritmada, entoada em um microfone, não é exclusividade do universo do rap.

Poderíamos definir o poetry slam, ou simplesmente slam, de diversas maneiras: uma competição de poesia falada, um espaço para livre expressão poética, uma ágora onde questões da atualidade são debatidas, ou até mesmo mais uma forma de entretenimento. De fato, é difícil definí-lo de maneira tão simplificada, pois em seus 25 anos de existência, ele se tornou, além de um acontecimento poético, um movimento social, cultural, artístico que se expande progressivamente e é celebrado em comunidades em todo o mundo.
Foi no ano de 1986, no Green Mill Jazz Club, um bar situado na vizinhança de classe trabalhadora no norte de Chicago, nos Estados Unidos, que o operário da construção civil e poeta Mark Kelly Smith, juntamente com o grupo Chicago Poetry Ensemble, criou um “show-cabaré-poético- vaudevilliano” (Smith, Kraynak, 2009: 10) chamado Uptown Poetry Slam, considerado o primeiro poetry slam. Smith, em colaboração com outros artistas, organizava noites de performances poéticas, numa tentativa de popularização da poesia falada em contraponto aos fechados e assépticos círculos acadêmicos.
Foi nesse ambiente que o termo poetry slam foi cunhado, emprestando a terminologia “slam” dos torneios de baseball e bridge, primeiramente para denominar as performances poéticas, e mais tarde as competições de poesia.
O Uptown Poetry Slam, que acontece até hoje nas noites de domingo no mesmo bar Green Mill, ganhou adeptos (poetas e audiência), cresceu vertiginosamente e o poetry slam se espalhou não só por Chicago, mas por outras cidades dos Estados Unidos. As competições se tornaram nacionais, culminando em 1990 no primeiro National Poetry Slam realizado na cidade de São Francisco, no qual competiram três times com slammers74 de Chicago, São Francisco e Nova York.
Logo as competições chegaram a países como Suécia, Inglaterra, Alemanha e Canadá. Em 2002, o primeiro campeonato internacional de slam foi realizado em Roma, Itália. Os poetas se apresentaram em suas línguas nativas e, em uma grande tela de projeção posicionada atrás deles, o público acompanhava simultaneamente as traduções.
Para que um slam aconteça é fundamental a participação coletiva e ativa de todos os presentes e, embora existam artistas que se destaquem na cena, até mesmo tornando-se celebridades e seguindo carreiras solo, como é o caso de Saul Williams, ator do premiado filme Slam (Levin, 1998), estes são considerados por muitos slammers como artistas que fazem spoken word, e não slam, na medida em que este último só acontece com a participação da comunidade, de outros slammers, sem que nenhuma das partes participantes se sobreponha à outra
O termo spoken word está relacionado com diversos universos, como o da poesia beatnik, dos movimentos negros americanos e seus discursos políticos, do hip-hop, e o das performances literárias contemporâneas. Começou a ser usado no começo do século XX, nos Estados Unidos, e se referia a textos gravados e difundidos pelo rádio e foi muito difundido nos anos 90 com o surgimento dos slams.
O slam é feito pelas e para as pessoas. Pessoas que, apropriando-se de um lugar que é seu por direito, comparecem em frente a um microfone para dizer quem são, de onde vieram e qual o mundo em que acreditam (ou não).
É um espaço para que o sagrado direito à liberdade de expressão, o livre pensamento e o diálogo entre as diferenças sejam exercitados. Um espaço autônomo onde é celebrada a palavra, a fala, e, ainda mais fundamental num mundo como o que vivemos - o ouvir.
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